Quem realmente pediu um Pixel Tablet?
A cada trimestre, tanto a IDC quanto a Gartner publicam relatórios com as suas próprias conclusões sobre as vendas e quota de mercado das principais empresas de tecnologia no mundo dos tablets. Apesar dos números nem sempre serem os mesmos, ambas concordam que empresas como a Huawei, Amazon e Lenovo se alternam nas posições 3, 4 e 5 do ranking, e concordam também que a Apple lidera esse mercado, seguida (na maioria das vezes) pela Samsung.
Ao longo dos últimos anos, os relatórios concordaram num terceiro quesito: a pandemia causou um aumento significativo nas vendas de tablets, atrás apenas do aumento significativo das vendas de portáteis e PCs. Ao mesmo tempo, as concorrentes da Apple seguem investindo em ideias que coloquem os seus produtos como uma alternativa viável ao iPad, muitas vezes apresentando híbridos entre tablets e portáteis que costumam ser recebidos com um grande bocejo pelo mercado consumidor.
Ao mesmo tempo, desde que a Apple inaugurou a categoria de tablets como a conhecemos hoje com o lançamento do iPad, ela reina praticamente sozinha neste segmento. iPads estão para tablets assim como Gillette está para lâminas de barbear. Existem concorrentes, mas ninguém liga muito. Neste caso específico, o iPad detém hoje aproximadamente 35% da quota de mercado, mas quase 100% do mind share.
Não que outras marcas não estejam a tentar. A Amazon chegou a vender pacotes de seis Fire Tablets a um desconto expressivo, para ver se assim convencia as famílias a comprarem este produto que ninguém pediu. Não deu certo. Já a Samsung é a única real desafiante da Apple neste mercado, tendo nas mãos a linha Galaxy Tab (e suas variantes) que seguem a proposta da linha de telefones Galaxy: inundar o mercado com opções, para reduzir a chance de alguém comprar a opção da concorrência dentro do universo Android. E tem dado certo. Especialmente se aproveitando dos problemas de bastidores enfrentados pela Huawei, a Samsung conseguiu estabelecer-se hoje como a sólida ocupante do segundo lugar no ranking de vendas.
Quem sempre observou tudo isto de fora foi a Google. Enquanto toda esta briga acontecia, a Google seguia fiel à proposta de ser uma empresa de software, fornecendo uma tecnologia de inteligência avançada em serviços de pesquisa e de tratamento de dados, e fornecendo o motor para todo o universo móvel Android. Mas algo mudou nestes últimos anos. Começou com o lançamento dos telefones Pixel, evoluiu para o desenvolvimento de um processador próprio chamado Tensor, e culminou esta última semana na Google I/O, quando a Google apresentou duas gamas de smartphones, uns auriculares profissionais, um relógio inteligente e, como a esta altura já parecia inevitável, um tablet.
Este tablet não teve muitos detalhes anunciados. Tudo o que sabemos é que ele será lançado em 2023, parece um iPad de costas, e parece um tablet genérico de frente. Mas mesmo sem detalhes, a apresentação deste tablet deixou muito clara a proposta da Google para os próximos anos: investir na ideia de que para ter sucesso na era atual da tecnologia, uma empresa precisa de fazer toda a lista de produtos que também é feita pela concorrência: telefones, auriculares, tablets, relógios, streaming de música, streaming de vídeo, coisas para o carro, coisas para casa conectada, etc, etc, etc. A entrada da Google no mundo dos tablets é a tradução de um pensamento bastante limitado de que é melhor fazer de tudo um pouco, ao invés de seguir concentrando-se num número menor de coisas para fazê-los com excelência.
Mais do que isso, essa entrada acontecerá justamente no final do maior boom de vendas que o mercado de tablets já viu, o que praticamente garante que ele será recebido com o mesmo bocejo que todos os outros tablets receberam quando chegaram ao mercado apenas para dizer “Agora eu também existo!”
Artigo de Opinião de Marcus Mendes (@mvcmendes) para o DroidReader.