O ano era o de 2013 e a Sony acabava de lançar o seu segundo smartphone de marca própria, o Xperia Z1. O mesmo trazia aquele que foi dos primeiros sensores fotográficos de 20.7MP e, por diversos anos, a empresa caracterizou-se por apostar em força no número de megapixéis. A compreensão do público face ao número de megapixéis era inexistente e, à medida que outras marcas concorrentes e com maior share mantinham o seu número de pixéis, como a Apple e a Samsung, o passar dos anos trouxe uma constatação: não obstante o poder humano na manipulação da câmara do telemóvel e suas capacidades, o software acrescenta toda a magia. E, sendo os smartphones equipamentos tão pequenos com sensores igualmente proporcionais em tamanho, o processamento de cada marca era o que realmente movia a indústria aliada ao hardware e, claro, foi fidelizando os consumidores.
Se a Sony, com imensos megapixéis, era sinónimo de uma experiência em maior qualidade nos detalhes, empresas como a Samsung procuravam processamento mais saturado e agressivo enquanto uma Apple mantinha um lugar cómodo no meio. Isto foi algo que foi mutando ao longo dos anos até chegarmos aqui. Ao ponto em que, não só temos sensores maiores, em conjunto de três ou quatro, e com um complexo conjunto de algoritmos por trás. Os consumidores começaram a ter mais voz e as marcas começaram a alinhavar os seus algoritmos ao que o utilizador queria e, claro, enquanto mantinham o processamento signatário. Os modos de noite evoluíram, fotografar a lua tornou-se possível e, mesmo em equipamentos de gama baixa, tirar fotografias em modo retrato com uma qualidade decente tornou-se fácil e esperado.
Todos iguais, todos diferentes
Perante a evolução natural, atualmente qualquer equipamento consegue tirar fotografias satisfatórias em diversos cenários. Porém, ao olhar para as comparações feitas online e os diversos vídeos de youtubers, existe algo que me incomoda demasiado e que raramente é mencionado: o que é, efetivamente, real.
Se forem assistir a algum video que compare dois telemóveis, a probabilidade de, nas fotografias lado a lado, só se falar no controlo de ruído, HDR, sombras e detalhes é, efetivamente, alta. Neste discurso, raramente se acrescenta a voz do fotógrafo e da sua visão de qual das fotografias retrata, efetivamente, o que ele viu. Isto torna-se notório em publicações nas redes sociais onde as celebridades do mundo tecnológico colocam retratos seus para os utilizadores indicarem qual gostam mais. Pois bem, se nenhum dos utilizadores viu a pessoa ao vivo, como sabe realmente qual a imagem que melhor retratou o tom da pele? O mesmo para as fotografias noturnas: sendo o ruído algo importante neste cenário de disparo, porque não se fala antes em como estava efetivamente a cena e, eventualmente, compará-la mediante uma fotografia neutra e tirada por uma câmara profissional?
Ainda existem fotografias reais?
Sendo as câmaras alimentadas, há anos, por reconhecimento de cena que automaticamente ajusta as definições de disparo para, atualmente, termos soluções movidas a IA, pensar numa fotografia como algo único, estático e real é, cada vez mais, difícil. Acrescentar esta preocupação aos cenários atuais, considero cada vez mais imperativo, ao falar-se deste assunto, exigir das fabricantes uma maior capacidade no controlo, não só do processamento, como da real representação de todos os espectros da humanidade numa fotogtafia.
Com uma atração geral para imagens bem expostas e com cores vivas, o humano terá, quase sempre, dificuldade na interpretação real e isenta de preconceitos de uma determinada fotografia processada. Existe, assim, a necessidade de exigir maior transparência dos próprios criadores de conteúdo ao falar e criticar um aspeto de um dado smartphone, saber dar ao leitor todos os dados, limpando-se das constatações básicas e que ultrapasse a fotografia que mais aprecia, mesmo quando essa é, na verdade, a que mais foge da realidade.
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