O ano era o de 2019 e, com grandes revoluções lançadas pela Huawei no campo fotográfico, uma delas destacou-se meses após o lançamento. Qual? Bem, o facto de a empresa praticamente substituir as fotografias tiradas pelo utilizador à lua por fotografias do banco de dados embutido na própria câmara. Não só a Huawei o fez, como a Vivo, ao ter um modo que substitui artificialmente a lua e já com conhecimento do utilizador. Estas práticas acabam por enganar o consumidor na hora de comprar e fazer com que apostas que surjam a seguir sejam sempre vistas de pé atrás.
As falsificações ao nosso satélite natural
Quem se lembra do mais recente caso de suspeitas contra a Samsung e de como esta também, alegadamente, falsificava a lua? As críticas, por conta da História, foram muitas, levando a empresa a traduzir para o inglês uma publicação que tem desde a gama S21 no seu fórum coreano. Nesta, e ao contrário das alternativas de outras marcas, a Samsung explicou como, com inteligência artificial, processa a fotografia tirada à luz do que os seus algoritmos sabem da lua. Isto pode parecer semelhante, mas torna-se algo diferente, já que torna a probabilidade de as fotografias entre utilizadores serem ligeiramente diferentes e mediante as condições atmosféricas.
O zoom ótico que não existe
Não é só no mundo Android que tais enganos existem e, se no ano passado vimos a Apple a adotar uma prática comercial duvidosa relativamente às suas câmaras, este ano foi a vez da Samsung o fazer com o seu S24 Ultra.
Começando com o caso da Apple, esta alega que o iPhone 15 Pro e Pro Max é "como que" equipado com 7 lentes quando, na realidade, essas magnificações resultam simplesmente num recorte do sensor principal e que preenche todas essas gamas de zoom. Para o consumidor comum, tais alegações levam a expectativas e a comparações com outras marcas que se tornam infundadas.
A empresa, cujo retorno financeiro caiu, levando a focar nos serviços ao invés de R&D, é demonstrado nos modelos mais caros, colocando o consumidor numa posição duvidosa e comprometendo eventualmente a própria lealdade perante uma empresa que parece, cada vez mais, correr atrás dos outros.
A Apple não é a única nesta situação, como especifiquei e, se por um lado temos uma empresa que raramente já se fala, a Sony, que oferece realmente zoom ótico por meio de um mecanismo eletrónico nos seus smartphones, a sul-coreana Samsung, com o seu Galaxy S24 Ultra, também oferece falsas esperanças.
A Samsung promove o novo sensor de 50MP a 5x como capaz de oferecer imagens "de qualidade" de forma ótica a 10x, não referindo de forma alguma que tal se deve a um recortar do sensor de 50 MP e melhorado posteriormente com IA e talvez com detalhes do próprio sensor de 200MP.
A importância da transparência
Atendendo aos valores a que estes equipamentos topos de gama chegam à Europa, a transparência deveria ser o mais exigido pelo consumidor. A mesma existe na indústria, como o caso da Honor, no ano passado, ao ter revelado e mostrado como funciona o seu sistema de fusão de imagens. Isto não só se traduz em conversas, reflexões e comparações mais fundamentadas e justas, como demonstra inovação numa indústria que parece parada neste ramo.
Os sonhos possíveis para a fotografia
Sendo este espaço de opinião, deixem-me partilhar convosco como ambiciono ver as marcas a investirem em sensores de uma polegada e com atributos generosos que permitam eliminar a panóplia de lentes que, habitualmente, temos nos smartphones. Tendo a Sony e a LG desenvolvido módulos fotográficos periscópicos com mecanismos que permitem a movimentação da lente dentro desse espaço, ver um zoom ótico contínuo é uma possibilidade. Porém, perante tantos cortes em desenvolvimento para um foco em serviços, este sonho parece estar em pausa.
Não é só na fotografia que se encontram estes enganos...
Um dos lançamentos mais esperado é, sem dúvida, o Apple Vision Pro. Prometendo democratizar as soluções e conteúdos para a realidade aumentada (por mais que a Apple não goste que se atribua a este aparelho o termo de RA e VR), se no momento da apresentação não existia praticamente ninguém de relevo a utilizar o produto ou a filmar-se a fazê-lo (incluindo o próprio CEO), com o início da pré-venda o assunto tomou outra proporção. Se antigamente não existiam fotografias de terceiros a utilizar este gadget que ultrapassa os 3000$, as fotografias que começaram a surgir, em nenhuma delas, é vista a real utilização do produto.
Porque digo isto? Bem, as imagens falam por si, onde em nenhuma das tornadas públicas se figura a bateria, somente o fio que o conecta ao que realmente alimenta o equipamento. Aquele que é dos pontos mais cruciais e deveria figurar na promoção do equipamento. Se será pedido ao utilizador que a carregue para todo o lado, a não inclusão desse elemento parece-me, deveras, de má-fé. Se aliarmos a isto ao facto de que só a Apple poderia fotografar os jornalistas com o aparelho, parece estar em causa uma qualquer forma de censura tecnológica bizarra.
Mas só estas marcas têm estas práticas?
A pergunta é válida e, se para muitos pode parecer estranho referir somente duas grandes empresas, tal deve-se à força motora que as mesmas têm no mercado e de como, de uma forma quase que bizarra e digna de filme, nenhuma sobrevive sem a outra. E, quando as duas maiores empresas do setor adotam estas práticas, é garantia que enfrentaremos o mesmo noutras. O exemplo mais comum é, por exemplo, no número de anos de atualizações que os equipamentos suportam, onde diversas marcas são ainda vagas ao clarificar se as mesmas dizem respeito a atualizações de Android, de skin de personalização da marca ou até a atualizações de segurança. E, enquanto a transparência não for completamente alcançada, cá estarei, para criticar. Para exigir melhor.
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