Nem sempre gostei, ou admirei, a Samsung. Apesar de consciente de todos os contributos da empresa no ecossistema Android, quer em software como hardware, o design dos mesmos era algo que não gostava. As coisas mudaram de figuram com a introdução da One UI e, após a retirada dos serviços Google dos smartphones da Huawei, quando quis substituir o meu Huawei P20 Pro, as alternativas eram parcas no mercado. A escolha acabou por recair no Note 20Ultra e, se na altura conhecia pouco da sul-coreana, fiquei maravilhado. Anos depois, e após ser utilizador de um S21 Ultra, do S23 Ultra e de ter testado os novos S25 Ultra, S25 Edge e até um Z Flip 7, sinto-me deveras familiarizado com o ecossistema e oferta da empresa. Todavia, existia algo que ambicionava desde que a Google entrou no mercado: usar um dos seus smartphones. E, apesar desta comparação não ser completamente justa, esta foi a minha experiência com um Pixel 10 após ter usado, nos seus quase três anos, um S23 Ultra.
O design

Quem acompanha os meus artigos sabe que começo sempre por este ponto — e, desta vez, não podia ser diferente. A Google e a Samsung seguem filosofias de design quase opostas. E, apesar de apreciar bastante o caminho da Google (com exceção daquele desastrado Pixel 3), há aqui uma verdade difícil de ignorar.

A Samsung insiste num design mais angular nos modelos Ultra — especialmente depois do fim da gama Note — e, por muito icónico que seja, torna-se desconfortável após longos períodos de utilização. Com a Google isso não acontece. A marca não só acerta nos materiais de construção, como consegue oferecer uma ergonomia que torna o uso do dispositivo genuinamente agradável.
É certo que estou a comparar o modelo mais compacto da linha Pixel 10, com o seu ecrã de 6,3 polegadas, bem distante das 6,8 do meu S23 Ultra. Ainda assim, a experiência é transversal à marca. A famosa barra horizontal que abriga os três sensores fotográficos reforça essa sensação de propósito no design: os dedos pousam naturalmente na borda da barra, evitando toques acidentais nas câmaras — algo que, no meu Samsung, acontece mais vezes do que gostaria de admitir.
As câmaras
Se vos falava em como a comparação não era correta por serem equipamentos de dimensões diferentes, o mesmo consegue ser válido para as câmaras. Contudo, existem elementos chave e que preciso, desesperadamente, de falar.
O processamento de imagem
Falar dos sensores parece irrelevante neste ponto quando consegui ver duas abordagens distintas, ainda mais evidente nos smartphones recentes da sul-coreana. Se a Samsung tem seguido uma abordagem mais neutra no que toca a cores, afastando-se dos seus outrora famosos céus extremamente azuis e verdes fortes, a Google não só a usa, mas consegue, com os seus modelos de processamento, que incluem aprimoramentos ao seu famoso HDR, tornar as imagens, não só detalhadas, como vivas e expressivas.
Apesar de não ficar totalmente impressionado com as fotografias noturnas dos três sensores do Pixel 10 — sobretudo quando comparo com o que a Samsung ainda consegue fazer num equipamento com quase três anos — é impossível negar a qualidade das imagens da Google, especialmente quando há movimento em cena. Aí, o Pixel destaca-se, enquanto a Samsung continua a tropeçar.
Mas onde tudo se torna realmente interessante é nas diferentes abordagens que as marcas dão aos modos de captura. Seja fotografia em movimento, modos profissionais, assistentes de câmara, escolha do melhor rosto ou até a possibilidade de nos inserirmos numa fotografia, tanto a Google como a Samsung apresentam propostas muito fortes.
E, por mais que goste daquilo que a Samsung oferece, a Google fez-me recuperar a mesma sensação que tive com o meu Huawei P20 Pro: a de que os modos de fotografia, como longa exposição, por exemplo, simplesmente funcionam, sem complicações. A Samsung até tem essas opções, mas parecem não ter evoluído o suficiente. No Pixel, tudo se torna mais intuitivo, mais prazeroso e, acima de tudo, mais pensado para o utilizador comum — algo que a Samsung, às vezes, parece esquecer.
O vídeo, contudo, acaba por ser dos grandes problemas, e tal culpado passa muito pelo processador.
O poder de processamento
O Pixel 10 vem com o novo Tensor G5, fabricado em 3 nm, o que à partida significa melhor eficiência energética e menos aquecimento. A Google mantém a mesma filosofia: não quer ganhar todos os benchmarks, quer um processador que funcione bem com IA, fotografia computacional e com todo o software do Pixel optimizado à volta disso.

Já a Samsung usa o Snapdragon 8 Gen 2 for Galaxy (4 nm), uma versão ligeiramente mais potente do que a standard. Aqui a lógica é diferente: é desempenho puro. Núcleos de alta frequência, uma GPU Adreno muito forte para jogos e tarefas pesadas, e um processador que aguenta praticamente tudo sem pestanejar. É mais “força bruta”, menos dependente de truques de software.
E isto leva a algo bastante claro: mesmo com o tempo que o meu S23 Ultra já tem, a Samsung continuou a dar-lhe novas funcionalidades. Seja na câmara ou na inteligência artificial, a oferta da Google acaba por estar mais limitada. Nota-se, sobretudo, na dependência que o Pixel ainda tem da internet para muitas funções de IA, enquanto a Samsung já combina modelos próprios com processamento no dispositivo.
Ainda assim, mesmo com a Samsung a tirar excelente partido do ISP do Snapdragon, a Google continua a liderar na fotografia e, sobretudo, na forma como integra todo esse processamento dentro da sua Pixel UI. Onde vacila é no vídeo, não tanto na qualidade em si, mas na limitação em resoluções mais altas ou em gravações com diferentes taxas de frame.
A interface da Google é mais leve do que a One UI e isso sente-se no dia a dia. No entanto, essa leveza tem um preço: em jogos ou durante gravação e edição de vídeo, o dispositivo aquece com mais facilidade, especialmente no modelo base. Já os Pixel Pro e Pro XL lidam melhor com estas situações graças a sistemas de arrefecimento mais robustos.
O software
A questão é que falar de processamento não adianta se não o conseguirmos interligar com o sistema operativo, a sua personalização, e conjunto de ecrã, câmaras e bateria e, aqui, é onde existe a maior diferente e onde os maiores pontes de discórdia ocorrem.
Se a Samsung oferece tudo aquilo que se torna possível num smartphone, desde um modo DeX, recursos de IA locais e online, vastas opções de escolha e personalização, a Google limita-se a focar no que pretende do seu Android e adaptar àquilo que entrega a nível de hardware. E, apesar da Samsung conseguir ter partes destes elementos já mais alinhavados em modelos recentes, o trabalho que a Google fez com a Material 3 Expressive é de louvar, onde as interações, animações e vibrações do sistema são uma delícia e difícil de igualar. Acabam por sinalizar de forma mais clara o uso que o utilizador está a ter, ao contrário que a Samsung se focou, durante anos, mais na vertente da funcionalidade e não tanto da usabilidade. Todavia, tendo apreciado esta escolha e usabilidade com a Pixel UI, percebi que a Google matou, na sua interface, algo muito simbólico: o próprio Android.
Não gosto de estar sempre ligado à internet. Quer por conta de bateria, paz de espírito ou privacidade, gosto de controlar o que tenho ligado e quando. Por exemplo: em casa, ligo o Wi-Fi e, no trabalho, os dados móveis. Consigo fazer isto de forma separada na One UI mas, na Pixel UI, a Google juntou estes dois toggles e obriga-me a entrar nele para ajustar o que quero. O mesmo no ecrã de aplicações, onde não consigo apagar um home screen inteiro sem remover as aplicações uma a uma. Estes são exemplos pequenos mas que se vão encontrando no sistema de forma expressiva e que me levou a perceber como a Google, ao querer controlar o seu sistema, acabou por acabar com aquilo que fazia dele o Android: a rica personalização e, sobretudo, escolha. Dar o poder ao utilizador.
Isto, contudo, pode ser uma vantage: a Google consegue, em teoria, entregar atualizações mais rápidas ao passo que a Samsung demora. Mas nem sempre o mais rápido acaba por ser bom, visto que a própria empresa já veio a público indicar que não vai corrigir um bug que existe na sua própria aplicação de Telefone. A Samsung, ao demorar, pode entregar mais, mas este mais pode ser só significativo a 40% dos seus utilizadores, enquanto que a Google entrega algo mais padrão e que agrada a todos.
Veredito
Pedirem-me para escolher entre o meu S23 Ultra e o Pixel 10 é quase desumano. As especificações são tão diferentes que a comparação direta chega a ser injusta. Mas quando a discussão passa para serviços, ecossistema e integração, a história muda. O Pixel descobri-o como quem procura algo que simplesmente funcione, sem complicações. Já a Samsung, especialmente com a linha S, continua a oferecer uma experiência mais voltada para a produtividade e para quem quer fazer mais do que apenas usar o smartphone.
Ambos são dispositivos incrivelmente capazes, cada um com o seu propósito, e não podia estar mais satisfeito com o rumo que a Google está a tomar. Gosto da ousadia, da forma como tenta fazer diferente. Só espero que, nas próximas gerações, consiga reforçar o hardware e, finalmente, tornar-se no Ocidente um verdadeiro rival à altura de uma marca tão consolidada como a Samsung.