Nas últimas três décadas, a Valve tem sido uma das peças fundamentais no mundo do gaming no PC, nomeadamente no papel que desempenha na distribuição digital e na gestão de direitos através da famosa plataforma Steam. Todavia, nos últimos anos, a empresa tem mostrado vontade em levar essa experiência para fora do computador tradicional. Tendo experimentado esta abordagem primeiro com o Steam Deck para, logo depois, a Steam Machine e, mais recentemente, com o headset Steam Frame XR. Todavia, existia uma fatia de mercado que ainda não beneficiava destes esforços mas, agora, as coisas irão mudar.
A aposta no futuro
Pelo que nos chega pelo The Verge, e via Android Authority, a Valve pode estar prestes a resolver outro problema: a fraca compatibilidade de jogos em processadores ARM usados em portáteis, como os Apple M-series ou os novos Snapdragon X da Qualcomm, onde o suporte a grandes títulos continua a ser limitado e pouco convincente pelas mudanças na arquitetura do sistema.
A aposta da Valve em levar jogos de PC para dispositivos Android e ARM representa, assim, uma viragem interessante no panorama atual de jogos e inaugura um futuro em que a biblioteca de Steam poderá acompanhar os utilizadores muito além do PC. Há anos que a empresa apoia projectos open-source como FEX, um emulador capaz de traduzir código x86 (o usado pela maioria dos jogos de computador) para ARM, e combiná-lo com Proton, a camada de compatibilidade que permite correr títulos Windows em sistemas Linux/SteamOS.
Os resultados destes esforços
Fonte: Steam
O resultado destes esforços é que, por vezes, já não se torna necessário portar um jogo para ARM: basta que o equipamento suporte a tradução e a a sua execução. De forma mais clara, isto significa que, com hardware compatível, muitos dos jogos de PC poderão correr num telemóvel ou tablet Android, ou num portátil ARM e sem o Windows.
Provas disto podem ser encontradas no novo headset de realidade virtual, o Steam Frame. Este usa um processador ARM (o Snapdragon 8 Gen 3) e vai suportar tanto jogos criados para Android como títulos para PC e por meio desta tradução via Proton + FEX.
Para o utilizador isto pode significar mais liberdade e conveniência na hora de jogar e de evitar a que fiquemos presos a formatos clássicos do PC. A promessa é, assim, clara: jogar onde se quer, sempre que se quiser e com base em processadores móveis que, a cada geração, ganham não só mais poder bruto, como melhor eficiência energética.
Existem, contudo, desafios
Apesar destes avanços, a tradução de código (x86 → ARM) e a compatibilidade gráfica e de desempenho nem sempre são perfeitas, onde alguns jogos podem perder no desempenho ou aspetos técnicos que limitam a experiência, especialmente em hardware menos potente. Exemplos disso pode ser, em equipamentos móveis sem as devidas salvaguardas térmicas, na tipologia de memória RAM utilizada, ou até na própria capacidade da bateria ou do ecrã e sua eficiência a longo prazo e no esforço que coloca também ao processador.
Apesar disso, a estratégia da Valve abre a porta a um ecossistema de videojogos mais universal e flexível, em que o PC tradicional deixa de ser o único destino para jogar e até, quiçá, trazer jogos mais clássicos de novo para a ribalta.