reMarkable 2 - A tecnologia mais simples pode ser a mais atraente

16 de Mai de 2025
reMarkable 2 - A tecnologia mais simples pode ser a mais atraente

Nesta era em que vivemos, estamos rodeados de ecrãs. Notificações em ecrãs pequenos de relógios ou de telemóveis, pop-ups, emails, vídeos, chats — tudo ao mesmo tempo, sempre a gritar por captar a nossa atenção. No meio de tudo isto, o reMarkable 2 surge como uma pequena revolução silenciosa e minimalista.

Um tablet que não é propriamente um tablet.
Um caderno que não é bem um caderno.

Mas posso garantir que esta foi, talvez, uma das experiências de escrita mais agradáveis que a tecnologia me proporcionou até hoje.

O som da caneta ao deslizar no ecrã é surpreendente — e isso é inegável. Quanto mais lentamente a deslizamos, mais ouvimos aquele som a entrar no nosso cérebro e a dizer-nos “estás a escrever em papel” — mas os nossos olhos veem, na verdade, um fino pedaço de tecnologia. A fricção entre o ecrã e a ponta da caneta faz com que o ecrã "soe" a papel verdadeiro. Estamos tão habituados aos teclados que quase nos esquecemos do quão gratificante é escrever à mão. E o reMarkable 2, graças à sua experiência de escrita, faz com que se volte a sentir essa vontade.

Garantidamente, com o reMarkable 2 não teremos distrações: aqui não há pop-ups, notificações, publicidade, sons… não há nada tecnologicamente avançado neste pedaço de tecnologia — e isso é bom.

Quando iniciamos o reMarkable — que é incrivelmente rápido após as primeiras configurações — há uma ligeira curva de aprendizagem. A primeira é perceber que isto não é um tablet convencional; podemos escrever e desenhar com a mão apoiada no ecrã sem provocar toques acidentais. E digo-vos que a experiência de escrita é sublime. Temos vários tipos de “canetas” — apesar de ser sempre a mesma fisicamente, as pontas virtuais mudam consoante o gosto do utilizador.

Apesar de o reMarkable 2 possuir um ecrã monocromático, quando usamos a aplicação no computador ou no smartphone, as cores estão lá — as cores que conseguimos usar para pintar ou sublinhar. E um pequeno segredo: ao sobrepor cores diferentes, criamos novas tonalidades, visíveis quando vemos o documento num ecrã colorido.

Algo que me surpreendeu bastante foi a grande quantidade de templates disponíveis nativamente no reMarkable 2. A navegação nos menus é incrivelmente intuitiva, e o ecrã de 10,3 polegadas (1872x1404) é suficientemente grande para tornar agradável até tarefas mais aborrecidas, como a leitura de PDFs.

Vou agora à principal questão: pode o reMarkable 2 ser uma ferramenta de estudo para um estudante universitário? A minha resposta é um sim, sem pensar duas vezes.

Levo apenas o reMarkable 2 para as aulas — nada mais. Ou seja, falamos de uma utilização diária de talvez 6 horas. Apontamentos tirados em cadernos criados em pastas com o nome da disciplina, organizados por mim. Em muitas situações, já levo os slides das aulas armazenados e faço os apontamentos diretamente sobre eles. Posso, posteriormente, copiar ou cortar os apontamentos e colá-los noutro documento de resumos ou criar um novo caderno para esse fim. Temos ainda a possibilidade de converter texto manuscrito em texto digital, e diria que tem uma fiabilidade de 80 a 85%. Também não podemos pedir à tecnologia para interpretar os “gatafunhos” que escrevemos à pressa e que nem nós próprios conseguimos entender.

O reMarkable 2 tem ainda um acessório que muda o jogo: uma capa com teclado, chamada Keyboard Folio. Este acessório transforma o nosso caderno digital num híbrido — entre um caderno com teclado e um portátil ultrafino. Alguém me alertou para o facto de o teclado não ter layout em português de Portugal. Inicialmente, não o queria, mas pensei: “Eu consigo escrever sem olhar para o teclado, portanto não deve ser assim tão difícil.” E, na verdade, não foi. Uma das diferenças mais visíveis é a ausência da letra “ç” e os acentos fora do sítio habitual — mas nada que não se resolva com algumas horas de utilização. Apesar desta pequena lacuna, não foi suficiente para me tirar a vontade de usar o equipamento com o teclado.

Uma vantagem em relação aos tablets convencionais é que as canetas Marker e Marker Plus não precisam de carregamento — funcionam por indução. A que tenho estado a testar é a Marker Plus, que já possui uma borracha na extremidade oposta, tal como um lápis convencional.

Apesar de ser um produto excelente, possui algumas limitações que devemos considerar e que podem deixar-nos reticentes quanto à sua aquisição. A maior de todas é a ausência de retroiluminação. Como o reMarkable tem a capacidade de ler eBooks, pensei que pudesse substituir o meu Kindle em certos momentos — mas não o faz totalmente. Já li alguma coisa nele, sim, mas não é a mesma coisa. Desde o tamanho do equipamento à impossibilidade de configurar o modo de leitura como no Kindle. Portanto, se a vossa dúvida é: “O reMarkable é um eReader?”, para mim, a resposta é não. Tenho a experiência de ambos, e um não substitui o outro.

Não sei se devo considerar uma limitação o facto de não permitir instalar apps ou de não ter som. Na realidade, é um caderno — e cumpre bem essa função: escrever e tirar notas. Mas, claro, esta avaliação depende sempre do utilizador.

Tenho filhos. Será o reMarkable um dispositivo aconselhável para crianças? Sim, garantidamente. Os meus filhos adoram: fazem desenhos, escrevem, fazem ditados e composições.

Alguns sites de editoras permitem, inclusive, o download de livros de fichas em PDF, o que me permite transferi-los para o reMarkable para que eles os preencham diretamente no dispositivo.

Só a possibilidade de os meus filhos poderem jogar, por exemplo, ao jogo do galo ali mesmo, sem termos de gastar papel, já é fantástica. A minha filha tem vindo a aprimorar as técnicas de desenho com a ajuda deste equipamento — vai buscar imagens ao computador, envia-as para o reMarkable, decalca com uma caneta fininha, copia o desenho e cola numa nova folha. Depois, trata apenas dos detalhes como quiser.

Portanto, para finalizar, a minha opinião sobre este equipamento é bastante positiva, apesar de um ou outro ponto negativo — nada de relevante ao ponto de me fazer perder o interesse. Às vezes, a tecnologia mais simples pode ser a mais atraente — e é o caso do reMarkable. A simplicidade torna-se funcional e, por isso, irresistível.