Desde 2013 que a reMarkable, marca norueguesa, nos tem presenteado com excelente hardware, softwares sempre atualizados e uma abordagem ao mundo do e-Ink diferente de todo o mercado.
Desde sempre se posicionaram para um segmento mais premium e com o lançamento do Paper Pro, o seu primeiro tablet e-Ink com um ecrã que suporta cores, vem solidificar ainda mais essa posição, quer seja pela qualidade do produto quer seja pelo valor do mesmo.
Specs - reMarkable Paper Pro
- Ecrã Canvas de 11.8" a cores
- Ecrã desenvolvido internamente com base na tecnologia E Ink GalleryTM 3
- Retro-iluminação no ecrã
- 64GB de armazenamento
- 2GB de RAM
- Processador 1.8 GHz quad-core
- Bateria de 5030 mAh
- Carrega através de USB-C
- Peso de 525g
- Dimensões: 196.6 x 274.1 x 5.1 mm
- Corre reMarkable OS, baseado no sistema Linux
- Suporta ficheiros com formato PDF e ePUB
- Vasta gama de acessórios compatíveis como Marker Plus, capas e capas-teclado
- Preço: 699€
Uma pequena explosão de cores no ecrã
Enquanto peça de hardware há zero ou nenhum problema a apontar, desde o momento em que se pega na caixa para fazer o unboxing até termos o Paper Pro na mão, o nosso toque é sempre recompensado.
Apesar do aumento de tamanho (não só de ecrã) face ao reMarkable 2, o Paper Pro continua a oferecer uma pegada algo compacta, em grande causa devido à sua espessura extremamente reduzida de 5.1mm. Contudo, não falamos de um dispositivo que se sinta frágil, pois toda a sua construção em alumínio dá-nos a segurança e rigidez necessárias.
Sobre o ecrã, confesso que não é o mais branco que vi na vida, já que devido à tecnologia E Ink GalleryTM 3 na qual se baseia e de forma a suportar cores para além do preto e branco, vemos um ecrã mais amarelado, mas mesmo assim com excelente qualidade de leitura. Agora, não pensem que o Paper Pro vai ser o melhor e-reader do mercado, porque para leitura há outras opções melhores no mercado. Algo positivo, é que nesta geração vemos a introdução da retro-iluminação, possibilitando a utilização do Paper Pro mesmo em ambientes com pouca luz.
Mas falando das cores, a grande novidade nesta nova iteração da marca norueguesa é ainda uma realidade recente no mercado, com os seus limites e algo dispendiosa. Mesmo assim, nada nos retira a surpresa quando escolhemos a cor do lápis e de repente estamos a desenhar ou escrever com várias cores.
O número de cores é obviamente limitado, não estamos a falar de LCDs e OLEDs, por isso somos desafiados a viver com cores primárias: Branco, Ciano, Magenta e Amarelo; e cores secundárias: Preto, Vermelho, Verde e Azul. Estas 8 cores podem ser combinadas até um certo limite o que nos permite ainda ter um total de 10 cores individuais, sendo as duas que faltam o Laranja e o Cinzento, tons intermédios derivados das 8 base.
Utilizar cores num ecrã de e-Ink é incrível e uma boa novidade, mas há que ter em atenção que no Paper Pro as cores vão ter um aspecto mais esbatido e fosco e ao passarmos esses documentos para um qualquer outro ecrã vamos relembrar-nos das limitações, pois as cores vão parecer muito mais vivas e até um pouco diferentes do que vemos no Paper Pro.
Quase como escrever em papel
Desde a sua génese e olhando para o nome dos seus produtos, que a reMarkable defende que escrever nestes ecrãs é como escrever no papel e até certo ponto é verdade, mas há um grande mas, já que é fácil de perceber que continuamos a escrever num pedaço de plástico.
Começando pelo início, existem 2 tipos de escrita no Paper Pro. Podemos escolher umas das duas canetas disponíveis, a Marker e a Marker Plus, em que as diferenças passam por mais 50€ e uma "borracha" na versão Plus. Mas nada temam, porque a versão base vem incluída no Paper Pro, até porque sem ela não há outra forma de escrever no ecrã.
Por falar em escrever, sim eu disse que sentimos que continuamos a escrever em plástico, mas um plástico texturado, muito melhor que escrever num qualquer ecrã de vidro. Se parece que estamos a escrever em papel? Diria que é mais o efeito sonoro entre a fricção da caneta com o ecrã que dá a impressão que estamos a escrever em papel. Para desenhar ou fazer algum sketching, essa sensação é muito bem-vinda porque nos dá um maior controlo sobre os nossos traços.
Contudo, podemos também comprar uma capa teclado para usar com o Paper Pro e escrever "à máquina", mas tenho de ser sincero. Estou a escrever esta review no reMarkable Paper Pro utilizando a capa folio teclado e a experiência está a ser interessante no mínimo. Para além do teclado não ser muito bom, a capa adiciona demasiado peso ao tablet e depois só temos disponível o teclado físico em inglês dos EUA (apesar de o sistema operativo suportar várias línguas, inclusivamente o português), ou seja, depois vou ter de passar este texto para um computador e ir adicionar uma quantidade absurda de assentos que não consigo de forma natural introduzir com este teclado. Assim, em nenhum universo faz sentido dar 249€ por esta capa (199€ se adquirida em conjunto com o Paper Pro), já que a experiência de escrita é fraca e estamos a adicionar peso desnecessariamente.
Um ecossistema ainda pouco aberto
O reMarkable Paper Pro pode ser utilizado offline, mas a grande vantagem de o ligar à internet é que podemos utilizar o serviço Connect. Uma subscrição da marca que nos permite ter armazenamento na cloud ilimitado, utilizar ainda mais as aplicações disponíveis para todas as plataformas e usufruir de um plano de proteção durante 3 anos. Por 2,99€ mês ou 29€ por um ano, esta subscrição traz ainda 100 dias grátis que permitem facilmente a quem a utilizar perceber se efetivamente faz falta e efetivamente pagar por ela.
Fora o facto de ter uma aplicação compatível com todas as plataformas e apesar de facilmente se conseguir ligar o reMarkable Paper Pro ao Google Drive ou ao OneDrive, o ecossistema do tablet é bastante fechado, já que só suporta PDF e ePUB como formatos de ficheiros e tudo acontece dentro do reMarkable OS.
Ao nos ligarmos a estes serviços de cloud sempre que vamos editar, por exemplo, um PDF, o que acontece é que estamos a fazer uma cópia para o Paper Pro e depois ao fazermos novo upload já estamos a triplicar o ficheiro, já que temos o ficheiro original na cloud, o duplicado editado no reMarkable e o duplicado editado na cloud original. Diria que é uma boa ideia para ser ainda mais fácil movimentar ficheiros, mas fora isso parece um pouco gimmick.
Ao pequeno grupo que se destina este produto
Nos dias em que andei com o Paper Pro muita gente ficava entusiasmada com o produto e perguntavam sempre duas coisas: Vale a pena? e: Quanto custa?
A resposta à segunda pergunta é a mais simples e a que leva à resposta da primeira. Custa 699€, se adicionarmos o Marker Plus e uma capa folio (mesmo a mais barata) já chegamos aos 798€. Com este valor a resposta à primeira pergunta é: Se tiveres a disponibilidade financeira e precisares de elevar o teu uso de um caderno, acho que vale. Se quiseres um tablet, existem opções no mercado nestes valores que fazem muito mais.
O utilizador a quem se destina o reMarkable Paper Pro é de um segmento mais alto, que sabe bem o que está a comprar e que se fartou de usar 30 cadernos por ano para notas, apontamentos ou desenhos. É alguém que tem uma utilização muito específica.
Quão vale a pena?
Para mim, se vale a pena? No tempo que tenho passado com o Paper Pro tenho-me apaixonado mais e mais por ele, mas tenho 100% noção que pelo mesmo valor ou menos conseguiria ter a mesma experiência e às vezes melhor com um qualquer tablet Android e uma película mate com efeito papel.
As cores no ecrã são uma boa adição mas não há nada que justifique o valor. Se quisesse um e-reader sei que há opções no mercado da Kobo e da Amazon, já com cores, a metade do valor do reMarkable e mais ergonómicos para ler.
No fim do dia, este reMarkable Paper Pro não passa de uma caderno e caneta (ou canetas, se contarmos com as cores) glorificado. É um excelente produto, em todos os aspectos, mas o preço pedido por ele é o seu maior calcanhar de Aquiles e o que vai afastar muitos potenciais consumidores.
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