Escolher um telemóvel é, cada vez mais, difícil. Não propriamente por serem todos maus, mas por a oferta ser tão vasta que é fácil ficarmos perdidos na hora de compra. E, quer isso seja por especificações que não compreendemos, a técnicas de marketing duvidosas ou até ao serviço pós-venda, chegou a altura de olharmos para 2022 e perceber o que devemos ter em conta na hora de gastar dinheiro.
A garantia da marca nas atualizações
O Android é famoso e rico pela vasta oferta no que toca à personalização e recursos oferecidos pelas OEMS. Quer seja uma experiência de Android Puro, até à oferecida pela Google, a OneUI, a OxygenOS ou a MIUI, existem elementos importantes que devemos considerar.
Sendo os equipamentos móveis cada vez mais caros, conhecer a política de atualizações de cada empresa é crucial no momento de perceber a longevidade do nosso equipamento. A Samsung é, atualmente, a empresa Android que mais suporte oferece, com quatro anos de atualizações de sistema operativo e cinco anos de atualizações de segurança nas linhas Galaxy S, Z e alguns modelos da gama A. No reverso da medalha temos praticamente as restantes marcas, incluindo a própria Google, que só oferece três anos de atualizações de sistema operativo.
Isto não é só indicativo do compromisso das empresas em oferecer uma experiência refinada de software, ao mesmo tempo que procura ouvir os consumidores. Em termos financeiros, políticas deste género permitem que a desvalorização do equipamento não aconteça tão cedo.
Gestão de calor e de processamento
Este é dos pontos mais difíceis, visto que nem todas as empresas demonstram como são os seus equipamentos por dentro ou dos esforços que fizeram para dissipar calor. Isto é sempre importante quando os processadores são, cada vez, mais potentes, e o calor gerado por operações como jogar ou fotografar é elevado.
As empresas que mais transparentes são nos esforços que fazem, e que usam como marketing, são a Xiaomi e Samsung pela utilização de componentes que ajudam a dissipar calor. Infelizmente nem sempre este "dizer" se traduz em equipamentos com boa gestão, pelo que o ideal é prestar atenção aos testes de vida real presentes em canais externos ou de vídeos em que os equipamentos são desmontados para percebermos os cuidados que as fabricantes tiveram.
Isto, claro, obriga a que, primeiro que tudo, exista atenção na gestão de recursos de sistema e que olhemos com atenção para a capacidade RAM do equipamento. Isto acontece, em especial, nos equipamentos de gama média e baixa, onde a memória RAM e uma skin pesada podem estragar a experiência e investimento após um ano de utilização.
Tamanho dos sensores fotográficos e qualidade de processamento
Como esmiuçado no nosso artigo referente ao marketing duvidoso de algumas marcas, um dos pontos a ter em atenção é a qualidade do sensor fotográfico.
Acredito que já tenham ouvido a mítica frase de que é o fotógrafo que faz a fotografia e não a câmara. Isto continua a ser válido e não adianta ter uma câmara gigante em megapixéis de 48MP ou 108MP se o tamanho do sensor é pequeno e, por sinal, a luz que entra neste também o é, o que compromete a qualidade de fotografia noturna e vídeos. Por outro lado, se o software for bom e extrair o máximo de potencial do que é captado, "estes 108MP" podem até compensar.
O tamanho do sensor importa ainda para a fotografia de retratos e para um fundo desfocado, pelo que ignorem a menção a "AI" a "sistemas de câmara quíntuplos" e olhem, primeiro, com atenção para o sensor fotográfico primário e para a qualidade dos sensores secundários.
Feedback háptico
Este é dos pontos mais renegados por muitos e, por mim, já o foi em tempos. O certo é que uma boa vibração ajuda a uma navegação mais intuitiva e completa nos nossos smartphones.
Isto, contudo, pode ser algo subjetivo, pelo que o ideal é irem a algum local e experimentar diversos equipamentos. Poderão ficar surpreendidos com a qualidade de muitos!
Carregamento rápido
Se existe marco que as marcas chinesas deixaram no mercado foi a velocidade louca de carregamento de uma bateria. E, mesmo que um carregamento de 120W seja exagerado, até porque o telemóvel não o usa em pleno, é importante pensarmos neste ponto. Em como um carregamento rápido de, pelo menos, 45W, pode fazer a diferença nos momentos em que queremos bateria e não temos muito tempo.
Podem até não ligar a esta característica - eu, por exemplo, tenho-a sempre desativada por carregar o telemóvel enquanto durmo e só a ativo em emergências - mas se têm um estilo de vida movimentado, talvez escolher o modelo com mais velocidade seja o melhor.
Gestão energética
Lembram-se de indicar que, nas câmaras, os números não são tudo? Bem, nas bateria também, e temos bastantes provas disso nos modelos de iPhone mais recentes.
Nem sempre uma bateria de 5000mAh terá o mesmo rendimento que uma inferior, e isto tudo deve-se à forma como o software da marca gere os seus recursos. Até agora, esperamos um equipamento Android que consiga bater a duração do iPhone 13 Pro Max. Atendendo aos processadores deste ano, tal poderá estar longe, mas está na altura das marcas alinharem o seu foco. Um que vise o primeiro ponto que vos dei, o software, passando pela gestão de calor e recursos do equipamento e, por fim, a bateria.
O tamanho e peso
Sim, eu adorei ter um Note20 Ultra por um ano, mas a sua dimensão para as minhas mãos não-tão-grandes-assim e o design retangular não me ajudaram a ficar com ele por muito tempo.
O tamanho tem assim um fator crucial no momento de escolhermos o nosso equipamento e, quanto maior, mais pesado é. Existem pesos que fazem o telemóvel ser mais robusto, mas agarrar um Galaxy Z Fold 3 e um Pixel 6 Pro, por exemplo é, sem dúvida, muito diferente.
Qualidade do som e das chamadas
Parece redundante falar de chamadas quando, bem, é um som, mas se existe elemento que tem sido esquecido é a qualidade na realização de chamadas e na reprodução de vozes.
Esta perceção só é possível de ter em loja ou em reviews externas à marca, mas podemos desde logo perceber, pela ficha técnica do equipamento, se este usa alguma tecnologia, como Dolby Atmos, ou se tem colunas duplas.
Visto que a maior parte dos equipamentos não conta já com o famoso jack de 3.5mm, talvez seja importante olhar para a especificação do Bluetooth (5, pelo menos) e perceber se é o mais recente - o que permite uma reprodução com mais qualidade e sem elevados gastos de bateria.
Câmaras telefoto ou periscópicas
Vou contar-vos algo que me dizem muitas vezes quando falo que adoro e não sobrevivo sem a lente periscópica a 10x que tenho no S21 Ultra ou do zoom ótico 3x da lente telefoto: que não é preciso. Zoom é desnecessário. E reparem, admito que não o use todos os dias, mas ter uma boa lente telefoto é importante.
Quantas foram as vezes que quiseram capturar uma paisagem longínqua ou até obter um ângulo diferente para uma fotografia? O zoom ótico permite isso, ao mesmo tempo que um aumento 3x permite retratos intimistas e com qualidade.
É normal que exista muito estigma por esta tecnologia tão recente, o certo é que zoom digital e ótico estão a léguas de distância e um bom sensor pode ajudar a elevar o nosso jogo fotográfico.
Sendo algo caro, encontrarmos bons elementos telefoto ainda é difícil, sendo que temos os parrudos Galaxy S22 Ultra, Galaxy S21 Ultra e Xiaomi Mi 11 Ultra e, para uma lente telefoto a 3x, a Samsung só este ano a deu aos S22 e S22+.
Serviço pós-venda
Não me interessa ter o melhor equipamento de mercado se o serviço pós-venda me vai deixar na mão. É importante perceber se teremos acesso a centros de reparação autorizados na zona e de como funciona o atendimento online e por telefone destas empresas.
Claro que isto até pode ser algo que nunca iremos precisar, mas não custa pesquisar online ou falar com conhecidos no assunto do suporte que têm sentido por parte da marca.
O veredito cabe sempre a ti
As marcas têm toda uma máquina de marketing preparada para ti, mas a não ser que sejas um executivo dela, o ideal cabe por pensar no que realmente queremos e vamos utilizar. Se isto não ajudar, olhar para a perspetiva do valor e de eventual retorno aquando de uma venda do aparelho no futuro pode ser a solução.
Atrevo-me ainda a acrescentar um fator que acho de elevada importância e, apesar de ser subjetivo e não ser bem uma funcionalidade, molda-se ao respeito que a marca deverá ter pelo mercado: a representação em Portugal e serviços integrais completos no nosso país.
É cansativo termos marcas que, como a Samsung, nem apresentam uma interface com o acordo ortográfico, a não identificação de emojis para o Português de Portugal no teclado da empresa ou a disponibilização do Samsung Pay. O mesmo para empresas como a Xiaomi ou a OnePlus, que apesar de venderem cá os seus equipamentos, têm aplicações completamente em inglês e as interfaces dos seus equipamentos sem a possibilidade de mudar o idioma. Sinto que se o consumidor está a pagar por algo, deve ao menos a marca respeitá-lo!
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