Num mercado tecnológico tão volátil, com ideias que ficam e outras que são facilmente esquecidas, o segmento de wearables, ou de equipamentos IoT (internet of things) sempre me fascinou. E, neste caso, com as diversas promessas ambiciosas de uma empresa como a Samsung no mercado da inteligência artificial associada à saúde e diversas parcerias com comunidades académicas e instituições científicas, a minha vontade em experimentar o novo Galaxy Watch7 era, sem dúvida, gigantesca. E, tendo usado a variante de 44mm deste relógio por duas semanas, são diversas as opiniões e reflexões que tenho para vocês. Acompanham-me nesta review?
As especificações de um relógio importam?
Resposta rápida: bastante. Uma mais longa? Implica revermos as principais melhorias nesta gama de relógios que, para mim, que vinha de um Watch5 de 44 mm, são enormes. E, por mais que as diferenças do meu modelo antigo para o 6 se tenham traduzido somente no modelo Clássico, um processador ligeiramente mais rápido e um ecrã 30% maior, quando comparado à gama deste ano temos melhorias colossais. Não só a empresa melhorou a robustez de construção do equipamento, contando agora com uma moldura circular com Armor Aluminum 2, como tem um novíssimo processador de 3 nm que promete um aumento três vezes para o CPU com um ganho de 30% de energia, ao mesmo tempo que todo o sensor BioActive foi renovado. O mesmo para o GPS, alvo de imprecisões em modelos passados, este equipamento tem agora dupla frequência.
Atendendo a que, para mim, um relógio inteligente tem o seu coração presente nos sensores que recolhem e processam os nossos dados vitais, este modelo acaba por ser uma escolha óbvia neste campo quando comparado aos equipamentos passados.
Algo aqui que poderia ser, contudo, melhorado, é a experiência de configuração que, com as ligações à conta da Google acaba por demorar perto de 10 minutos. Aqui o utilizador precisa de ter, efetivamente, tempo.
Estas promessas são sentidas no dia a dia?
A primeira coisa que precisam de saber é que usar este equipamento é um autêntico encanto. Não só o seu ecrã é maior, mais detalhado e brilhante, como a consulta da informação no mesmo torna a experiência de sabermos mais sobre nós, intuitiva. Quer seja pela nova interface baseada no novo WearOS 5, codesenvolvido entre a Google e Samsung, quer pela OneUI Watch a servir de personalização, a utilização é fluída, rápida e faz-me esquecer os flagelos que eram as versões antigas deste sistema operativo. Sendo um adepto do Tizen aquando do meu uso do Galaxy Watch3, ver finalmente a interface ganhar em rapidez é algo que aplaudo.
Apesar da ausência de uma coroa rotativa, como nos modelos Clássicos, a navegação por toque é rápida, assim como a consulta às diversas métricas que o relógio nos dá. Aqui, e aliando ao já tradicional monitoramento do batimento cardíaco, oxigénio no sangue, temperatura, medição de eletrocardiograma, da pressão arterial e da impedância corporal, encontramos agora um novo dado potenciado pelo hardware do equipamento e que se deve ao Índice AGEs. Este é exclusivo desta nova linha e que, apesar de estar indicado como Labs, fornece ao utilizador uma visão plena do seu estilo de vida, uma vez que este indicador permite perceber a nossa saúde metabólica que reflete o nosso envelhecimento. Como nos explica a marca:
“O seu Galaxy Watch mede os produtos finais da glicação avançada, ou AGEs. Os AGEs são compostos que se desenvolvem naturalmente no seu corpo quando as moléculas de proteína e gordura são oxidadas por moléculas de açúcar. Os AGEs acumulam-se à medida que envelhece.”
Estes dados alimentam a nova experiência da Samsung e foi aquela que mais me fez querer adquirir este produto. Quer seja por resultados mais precisos pelos novos sensores, até novas métricas habilitados por eles e algoritmos, como variação do batimento cardíaco, movimento durante as fases do sono ou a taxa respiratória, a Galaxy IA penetra em todos estes novos dados para, ao início de cada dia, dar ao utilizar uma série de informação que permite, não só dar mais consciência, como provocar mudança.
A IA chega aos smartwatches
A inteligência artificial, ligada à saúde, tem um potencial que, mensalmente, conseguimos encontrar em estudos científicos pelo que, quando penso na mesma associada a um equipamento pessoal e que, por 24h, mede os meus dados, a expetativa é elevada. Foi com este ideal em mente e altamente promovido pela Samsung desde janeiro, que entrei neste relógio com alguma confusão. Sei que nem todos irão perceber do que falo mas, atendendo a que no início do ano a Samsung apresentava um Booster Card e o My Vitality Score, neste relógio tais funcionalidades passaram por uma alteração ao nome e que, a mim enquanto consumidor atento, confundiu. O certo é que, posta a confusão de lado, o Samsung Health parece mais completo. Não só consigo ter mais métricas associadas ao meu sono, como todos os dias posso ver a minha energia para o dia e, sendo honesto, deixem-me dizer-vos que é bastante perspicaz naquilo que me dá e no que sinto ao longo do dia.
Esta pontuação quantitativa resulta do aglomerado de dados que o relógio mede e que incidem na nossa atividade física e, claro, fatores medidos durante o sono. Posteriormente, ao longo do dia, a aplicação dá-nos cartões onde encontramos métricas referentes à nossa pontuação de sono, energia, composição corporal e exercício. Sendo parte da minha visão de como acredito que a IA pode ajudar-me, ter estes cartões revelou-se numa boa surpresa ao perceber a sua implementação final. Aqui, obviamente, quanto mais dados medimos com o relógio, mais dicas e informações recebemos mas, para primeira implementação, confesso que é com admiração que me vejo a abrir mais vezes a aplicação. A consulta no próprio relógio acaba por ser igualmente fácil e completa, não existindo grande necessidade de estar a abrir o telemóvel para ver os principais dados. Porém, no caso do Índice AGEs, é o telemóvel que mais visão nos dá. Isto acontece pelo próprio dado em si que, olhado isoladamente, nada nos diz, mas mais no seu todo e em como o metabolismo do nosso corpo varia consoante as semanas e meses.
Todavia, existe um mas que se traduz numa reflexão mais abrangente e o mesmo se deve a estas novas funcionalidades e na necessidade que ainda existe, precisamente, de abrirmos uma aplicação. Uma vez que diversas mudanças só acontecem com o estímulo certo à hora certa, a Samsung abordaria a saúde de forma efetivamente holística com notificações estratégicas ao longo do dia e que desse ao utilizador informação com impacto mais valioso. Por exemplo: o Samsung Health poderia dar informações úteis perto da hora de almoço ao analisar compreensivamente os últimos dados de composição corporal, atividade física e AGEs ou, por exemplo, perto da hora de deitar e no caso do utilizador introduzir o que comeu na aplicação, talvez fornecer informação a respeito da cafeína com base no horário de deitar.
Eu acredito que se chegará a isto, uma vez que a empresa promoveu no último Unpacked um modelo local de IA que, sendo pessoal, ao perceber que o utilizador está cansado ou treinou demasiado, irá sugerir adiar a reunião que tem marcada no calendário. Posto isto, apesar do futuro ser promissor, gostava de ver mais abrangência nestas novas funcionalidades. Até porque, efetivamente, existe. Exemplo disso são as notificações diárias a respeito do sono, onde sabemos logo a avaliação qualitativa do sono e da notificação motivacional para completar os nossos círculos de atividade pela manhã. Mas ficarmos reféns de promessas pode ter um risco e, no Galaxy Watch7, tal não é exceção.
O que não cumpre o Samsung Galaxy Watch7
O lançamento de um novo equipamento é sempre feito com promessas de melhorias que o utilizador, no dia um, deverá logo sentir. E, se já vos falei de como estou contente com o processador do equipamento e dados recolhidos pelos sensores, o mesmo não posso dizer da bateria que, só recentemente, recebeu uma atualização que a aprimora.
Atendendo ao processador mais eficiente e, supostamente, o WearOS que é mais amigo da bateria, espero ver os 426mAh da bateria brilharem agora que o relógio foi atualizado. E, tendo já efetuado um carregamento completo, posso dizer que facilmente obtemos até 48h de bateria. Se queria ligeiramente mais, sim, mas perante o aumento da precisão e a que outros relógios só conseguem oferecer 24h, julgo ser o preço a pagar e que, a bem dizer, justifica a utilização de um eventual anel inteligente.
O que não brilha, e não parece ter luz à vista, é a presença da deteção de Apneia e do registo de Medicamentos. Sendo funcionalidades que a empresa publicita, Portugal escapa destas ferramentas úteis e que, sem qualquer resposta da marca, saberemos quando estarão disponíveis. Quer as mesmas estejam pendentes de revisões nacionais ou europeias, os que forem comprar o relógio com este propósito ficarão, pelo menos para já, desiludidos.
Sendo asmático, a medicação da apneia no sono é algo a que a empresa desaconselha mas, tomando medicação, tenho usado de forma "alternativa" o registo de medicamentos e dá-me efetivamente pena não ter oficialmente disponível a funcionalidade por cá. A mesma é útil e, se pensarmos numa abordagem transcendente onde retirar fotografia a um prato e a IA reconhecer os alimentos, poderíamos ser avisados de incompatibilidade por algum alimento ou até perceber como afeta a nossa composição corporal.
Vale a pena comprar o Samsung Galaxy Watch7?
Com três novos estilos de watch faces, um novo modo no relógio que permite criarmos o nosso próprio exercício e um corpo mais robusto, as promessas do futuro para este equipamento são grandes. Quer pela sua estabilidade, por futuras novas atualizações de WearOS e, claro, funcionalidades mais avançadas da Galaxy IA, este modelo traduz-se numa excelente compra para os amantes de relógios realmente inteligentes. Apesar de querer mais da empresa, nomeadamente em termos de melhor eficácia na medição do oxigénio do sangue, alertas de stress e, talvez, widgets para as dicas de saúde ou a nossa pontuação de energia, compreender os nossos dados está mais fácil que nunca.
Com a precisão do batimento cardíaco a ter sido significativamente melhorada face aos antecessores e um painel AMOLED mais brilhante, o preço praticado pela empresa tornam este um equipamento altamente competitivo face à concorrência no ecossistema Android. Apesar da empresa comercializar ainda o modelo Watch6 Classic, acredito que cabe ao utilizador perceber até que ponto os seus dados biológicos são importantes no momento de apostar num relógio inteiramente renovado.
A aplicação continua intuitiva e completa, sendo fácil de perceber o porquê de determinada métrica importar. Como a mesma inclui ainda, de forma gratuita, exercícios físicos, de respiração e desafios com amigos e globais, é fácil de ficarmos compelidos a mudar algo na nossa rotina.
Acresce ainda, contudo, o facto de que dados como Pressão Arterial, ECG e futura Apneia necessitam de um equipamento Samsung. Isto pode restringir imenso quem procura um relógio completo, pelo que cabe avaliar bem o que se quer enquanto consumidor.
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