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(Crítica): A Samsung e o custo de redesenhar a experiência mobile
Diogo Simões

(Crítica): A Samsung e o custo de redesenhar a experiência mobile

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Foi em 2020 que o mundo parou por conta de uma pandemia. Não só o estilo de vida mudou drasticamente como, nos meses e anos seguintes, a recuperação foi lenta. Não obstante a entrada na vida normal, uma guerra assolou a Europa e, agora com as eleições em Taiwan a terem terminado, uma nova incerteza pauta no mundo face às tensões entre a China e os EUA. Parece longínquo ou, para alguns, estranho estas sucessões de eventos associados à tecnologia, mas quando Taiwan é o maior produtor de processadores do mundo, é impossível não olhar para o mercado tecnológico com alguma reticência. O seu futuro parece incerto se os conflitos passarem de palavras à ação, mas existe uma empresa que nos ajuda a perceber os reais impactos destas transformações socioecónómicas no mundo tecnológico e essa é a Samsung.

O peso das perdas

Tendo entrado em 2024 com uma quebra de 95% em lucros operacionais comparado ao ano anterior e após uma política de redução de custos que vigorou no segmento mobile até dezembro de 2022, onde foi pedido pelo vice-presidente da marca à divisão mobile para se pensar em novas estratégias e se focarem em melhorar a experiência de utilização dos utilizadores Galaxy, 2024 promete ser um ano decisivo no pensar da marca. Com uma campanha promocional forte voltada para a Inteligência Artificial e suas capacidades, a empresa promete com a gama S24 entregar algo “novo”, único e que vem “redefinir a experiência mobile”. Com vendas superiores da gama S23 comparada com a S22 e com um aumento de produção da linha S24, a sul-coreana parece querer afastar-se dos seus anos de contingência por um mundo tão geopoliticamente alterado e confinado.

Todavia, se a Samsung procura uma melhor aposta para o consumidor e o consegue fazer por meio do suporte dado a nível de software — algo que a Google, pioneira em algumas das ferramentas de IA também mostradas pela Samsung, não o faz, limitando a sua utilização —, esta tenta passar por impune no campo de hardware. Prometendo transformar a vida do utilizador, a sul-coreana continua a mascarar a aposta em processadores distintos para diferentes mercados, assim como capacidade de memória RAM reduzida, o mesmo sensor de impressão digital ou velocidades de carregamento mais baixas.

Para o consumidor comum, estas medidas podem passar por despercebidas ou estranhas. Mas, ao analisarmos a realidade reportada pela comunicação internacional e no campo dos semicondutores, sabemos como o ramo LSI (dos processadores) tem tido perdas astronómicas, com pouca procura e lucro. Isto demonstra a necessidade da empresa de apostar e comprar equipamento produzido “em casa” para manter um ramo operacional e funcional.

Esta história, contudo, não se resume somente ao processador, mas a de trazer melhorias mais significativas para as câmaras dos modelos S24 e S24+ ou, indo mais longe, de renovar realmente a sua linha de dobráveis. Apesar de um futuro foldable estar a meses de distância, se estes compromissos continuam presentes no início do ano, o segundo Unpacked não se figura como revolucionário no campo de hardware.

A nova era mobile tem demasiados fantasmas

A empresa promete uma nova realidade elevada pela inteligência artificial. Tendo a mesma procurado que o novo Exynos corresponda às funcionalidades neurais do seu homólogo da Qualcomm, estas discrepâncias demonstram como existe ainda um longo caminho a percorrer. Poderá a mesma usar a IA para personalizar os seus processadores a um novo nível e que leva ao aparecimento de um processador próprio, com novo nome e exclusivo da linha Galaxy? Pode a empresa passar a descartar a performance mantida e utilizar alguma magia da inteligência artificial para agilizar de tal forma o seu sistema e elevar o processador que o alimenta?

As perguntas são muitas, mas para uma marca tão conceituada e que alimenta o mercado Android e o faz viver (como o facto de a própria Google abandonar o seu serviço e nome de Nearby Share para o implementar no criado pela Samsung, o Quick Share), esperava algo acrescido ao já apresentado pela concorrência, nomeadamente a Google, com as suas ferramentas de manipulação de imagem e criação de wallpapers por IA.

Pontos nos “is”

Esta gama é má? Não vale o valor pago pelo consumidor? Longe disso. A Samsung oferece uma experiência mais madura e com cada vez mais promessa no software que faz o consumidor apostar nesta. Não só por ser a empresa mais rápida a disponibilizar a versão Android mais recente para todos os equipamentos abrangidos independentemente da gama, como em não bloquear funcionalidades a modelos mais caros/recentes. Mas a mesma, ao prometer uma nova era, peca pela falta de ousadia em ir mais longe e de conseguir acompanhar alguma da competição chinesa na sua procura constante por inovação e experimentação.

Com diversas funcionalidades surpreendentes, esta gama parece servir como mensagem ao mercado e consumidores do que está por vir no futuro. Com a promessa das funcionalidades de IA gratuitas até ao final de 2025, este Unpacked conseguiu deixar-me entusiasmado, não com a linha em si, mas com as potencialidades exploradas pela marca, assim como as criadas em parcerias como a Google e o seu modelo Bard movido com a tecnologia Gemini.

O software parece surgir como resposta à inércia de inovação a nível de hardware e que, logicamente, permite responder às inconstantes deste mundo tão geopoliticamente em risco, o que transforma, assim, numa oferta da marca que, com alguma originalidade, é segura. Previsível.

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Crítica Samsung