Quando a Samsung se estrou no mercado de dobráveis foram diversas as empresas que se aventuraram no segmento. Apesar deste não ser expressivo no mercado, nem nas suas projeções para 2027, foram diversos os equipamentos a surgir nos últimos anos e que desafiaram a engenharia. Apesar do concorrente direto no ocidente, o Galaxy Z Fold 7 estar na sua sétima geração, a HONOR apresenta no seu V5 efeitos impressionantes e que tornam este um dobrável que o ultrapassa em diversos pontos. Mas vamos por partes.
As especificações contam?
Por vezes as especificações são meros números técnicos em papel que, ao fim de uns anos, esquecemos. O certo é que no mercado dos dobráveis as especificações são chave já que, não só falamos de equipamentos de grande dimensão e com foco em produtividade e criatividade, como estes chegam aos mercados por 2000€.
Categoria |
Especificação |
Ecrã Principal |
OLED dobrável, 7,95
polegadas, 120Hz |
Ecrã Externo |
OLED, 6,43
polegadas, 120Hz |
Brilho |
Brilho Máximo HDR:
5000 nits Brilho Máximo Global:
Ecrã Interno 1300 nits, Ecrã Externo 1800 nits |
Processador |
Qualcomm
Snapdragon 8 Gen 2 |
RAM |
12 GB / 16 GB |
Armazenamento |
256 GB / 512
GB / 1 TB |
Câmara Traseira |
50 MP (principal) + 50
MP (ultra grande angular) + 64 MP (telefoto) |
Câmara
Frontal |
20 MP no ecrã
exterior e interior |
Bateria |
5.820 mAh,
carregamento rápido 66W e 50W Wireless |
Sistema
Operativo |
MagicOS
baseado em Android 13 |
Conetividade |
5G, Wi-Fi 6E, Bluetooth 5.3, NFC, USB-C |
Peso |
217 g na variante
Branca e 222 g nas restantes |
Espessura |
8.8 mm quando fechado
e 4,1 mm quando aberto na versão Branco e 9 mm quando fechado e 4.2 mm quando
aberto nas restantes cores |
Resistência |
IP58 e IP59 |
Segurança Biométrica |
Leitor de impressões
digitais lateral, reconhecimento facial |
Cores
Disponíveis |
Preto,
Dourado, Verde |
É com especificações impressionantes nas dimensões, durabilidade e fotografia que os 1999,99€ pesam na hora de decidir que dobrável escolher. E, com um design arrojado, parte desta narrativa se começa a desenrolar no momento em que temos o equipamento nas mãos.
Design

É com o seu perfil fino e cantos arredondados que o telemóvel se encaixa perfeitamente na mão. Apesar da sua imponente câmara e bateria, o peso está bem balanceado e, se nas primeiras impressões referia que poderia ser um risco, o design do módulo de câmara circular é não só inconfundível, como ajuda na hora de saber onde repousar o dedo.

É extremamente cómodo usar o equipamento e a própria filosofia de design é posta à prova quando colocamos o telemóvel fechado sobre uma mesa, onde ao contrário da grande maioria dos smartphones, este não fica desequilibrado.

A mesma história acaba por não se repetir quando desdobramos o equipamento e nos maravilhamos com o seu ecrã de quase oito polegadas. Aqui o aro da capa, que se ajusta para um tripé, ajuda, o que nos demonstra ao que este equipamento quer ser: uma central para o melhor consumo de entretenimento e produtivo quando desdobrado. Apesar destes pontos positivos no equipamento e que o tornam prazeroso de usar e sem fadiga, especialmente na escrita com as duas mãos e o ecrã aberto, existiram dois pontos que gostava de ver repensados no futuro: a abertura e posicionamento de botões.

Da mesma forma que os portáteis adotaram recortes nas suas molduras para permitir uma abertura facilitada, seria bom ver algo do género aqui. Uma forma de ajudar na abertura do equipamento que, com o seu mecanismo forte, por vezes pode dar insegurança no momento de abrir. O outro ponto, e este pode ser mais difícil de alcançar, é o posicionamento dos botões de volume, que para mim estavam demasiado acima do botão de desligar e nem sempre tornaram cómoda a utilização.

O meu destaque aqui, contudo, tem de ir para o acabamento na sua cor Dourado, onde o gradiente com o preto torna este num dos acabamentos mais bonitos que vi. Este acabamento também é passado para a capa, que tendo um mecanismo magnético para o mecanismo de abertura, se revela bastante resistente com o seu toque a imitar a pele.
Ecrãs são um portal mágico neste Magic V5

O dispositivo possui dois ecrãs OLED de alta qualidade: um externo de 6,43 polegadas e outro interno dobrável de 7,95 polegadas. Ambos operam com painel LTPO OLED a 120 Hz, o que permite uma taxa de atualização fluida e responsiva, assim como modos para poupar energia quando o conteúdo exibido não exige taxas altas. Esta definição pode ainda ser facilmente ajustada, já que ou podemos capar a taxa de atualização, fazer o equipamento operar sempre na frequência máxima ou, claro, deixar o smartphone decidir por ele.
Em termos de brilho, cada ecrã atinge valores de até 5 000 nits de pico, o que ajuda bastante em condições de luz ambiente forte — por exemplo, ao ar livre ou sob luz solar direta.
Para conforto visual, não é só nas especificações que o equipamento se destaca, já que inclui vários sistemas de redução de perturbações visuais e proteção para os olhos: dimming (escurecimento) PWM de alta frequência (4 320 Hz), modos como “Eye Comfort Technology”, “Circadian Night Display” (modo noturno com ajustes de tonalidade), detecção dinâmica de luz ambiente e um dos meus favoritos: o da redução do enjoo, em que é totalmente personalizado pelo utilizador e ajuda até enquanto conduzimos e temos de olhar para o equipamento.
Também suporta uma ampla gama de cores (DCI-P3) e grande profundidade de cor (1,07 mil milhões de cores) o que resulta em imagens mais realistas, vibrantes e com transições suaves de cor. O ideal quando falamos, claro, em entretenimento.

Sendo o foco destes ecrãs, a dobra é notória, sim, mas somente quando procuramos por ela. Notei, contudo, que é quando temos fundos brancos e o ângulo certo que mais a vemos. Se a mesma interrompeu o meu consumo de conteúdo? Nunca, mas fico curioso com o ecrã ao longo dos anos.

O entretenimento ganha vida

Os ecrãs grandiosos e bem calibrados permitiram-me desfrutar de YouTube e até televisão de uma forma sem precedentes. Uma vez que agora não tenho televisão no local de trabalho, foi com gosto que ao usar a aplicação do meu operador de serviços, desdobrava o telemóvel para a partilha do que via com os meus colegas. Aliado a um sistema poderoso de colunas que tornam a experiência envolvente, ver YouTube torna-se também uma das grandes vantagens de ter como que um mini tablet no bolso.
Acredito que ter um dobrável não será para todos, mas torna-se inegável como mais se usa, mais se saboreia os benefícios de ter dois ecrãs. Isto torna-se evidente, não só no consumo de multimédia, mas também na leitura de artigos, onde as proteções oculares da HONOR ajudam no conforto. Foram, na verdade, diversas as vezes que dava por mim a, cada artigo, abrir o ecrã para ler com mais rapidez. As transições funcionam bem entre o fecho e abertura, onde perder o que estávamos a fazer se torna raro pela forma como as aplicações estão bem adaptadas a este fluxo.
A produtividade entra em cena
Apesar do ecrã e consumo de multimédia, é na produtividade que as marcas apostam quando falam e comercializam estes produtos. A HONOR não é exceção e, apesar de não ter testado a utilização com a caneta proprietária da marca, a utilização com três aplicações torna-se facilitada pelo software e a capacidade de redimensionar as janelas das aplicações. Aqui, contudo, acredito que falta maior maturidade no software e na facilidade do utilizador fazer o que realmente quer. Sendo um conceito que existe há alguns anos nos equipamentos da Samsung, tinha facilidade em compreender as opções que o MagicOS 9.0.1 me dava, mas a empresa poderia criar uma utilização mais perceptível no momento de abrir várias aplicações em simultâneo.


O certo é que, uma vez percebida a mecânica, fica fácil de agrupar as aplicações e abrir uma terceira em janela flutuante, sendo que a mesma pode ainda ficar em miniatura, o que elimina qualquer interrupção ao fluxo de trabalho que queremos.

O mesmo acontece na visualização e edição de documentos, onde a HONR apresenta aplicações próprias e que se interligam bem com o seu sistema, quer na sua prática, quer na escrita. O mesmo para os truques de software que aplica, em que podemos até comparar imagens lado a lado.



Claro que neste campo a empresa oferece diversas definições para ativar ou personalizar esta navegação em ecrãs dobráveis e que vão desde à remoção da barra flutuante e de atalho, até à adaptação das aplicações em janelas pequenas. Isto garante, sendo algo já clássico no Android, personalizar a experiência à nossa utilização. Isto torna-se útil se, como eu, não estiverem habituados a usar dois ecrãs moveis desta forma.

Chamadas também entra no campo da produtividade, especialmente se fizerem também por vídeo e aproveitarem este formato de equipamento. A HONOR destaca-se aqui pela qualidade das chamadas, onde a empresa usa até um chip próprio, mas também de ferramentas de IA para tornar a voz mais nítida e sem perdas de som, até à identificação de deepfakes nas chamadas de vídeo. Esta funcionalidade aparece automaticamente assim que se inicia uma videochamada e é algo bem vindo na era moderna.
Existe, contudo, uma falha nesta oferta. Enquanto que diversas empresas oferecem controlos de SPAM para chamadas, a HONOR não apresenta qualquer solução nativa, o que sinto ser uma falha perante outras funcionalidades de IA como a tradução de chamada.



O Magic Portal é também, bem, mágico, e a sua fluidez acrescenta um apelo à sua utilização, ao tornar o que vemos no ecrã algo facilmente interpretado pelo sistema e para utilização noutras aplicações sugeridas. Apesar dos efeitos polidos, a ativação desta aba de notificações acaba por ser extremamente difícil, onde temos de arrastar o dedo da margem do ecrã para mais de meio do equipamento, o que pode frustrar em alguns momentos.
Câmaras
Com um gigante módulo fotográfico, falar de fotografia torna-se imperativo. Não só pelos sensores impressionantes, mas com a qualidade daquilo que consegue entregar e que arrasa a concorrência dobrável em termos de hardware bruto e um processamento que nos dá imagens verídicas.




As imagens acima ilustram bem a capacidade de hardware e software em dar uma boa fotografia apesar da distância onde, contudo, se nota como o sensor e software perdem capacidade após os 50X, como na primeira imagem comparado à última, e que demonstra a direção que a HONOR parece querer seguir, com imagens mais naturais e onde o processamento por IA é quase inexistente. Algo que notei e visível na primeira imagem é como parece existir alguma dificuldade no foco automático, onde por mais que tivesse ativo os modos especiais de imagem, era necessário carregar no ecrã para garantir a nitidez das imagens seguintes, nomeadamente a 10x, 30x e os 50x.


Estas dificuldades e fragilidades foram igualmente sentidas na captação de rostos e, mesmo que a câmara detecte automaticamente e dê sugestões para retrato ou modo palco, os rostos são algo efetivamente difícil no zoom, onde a consistência no detalhe se torna evidente. Ou seja, parece que enquanto o pós processamento nos procura dar imagens verídicas, o mesmo acaba por quebrar-se em cenários pais exigentes ao se usar zoom digital.




Apesar disso, o equipamento apresenta diversos modos, que aplaudo, como o supermacro, pintura de luz, alta resolução, câmara lenta, marcas de água, filtros, modo pro e, dos meus favoritos: a captação automática de sorrisos e a boa captura de fotografias em movimento. O curioso, contudo, é que não é possível alterar a resolução das imagens.

Neste ponto, contudo, gostava de ver uma interface mais arrumada, onde as definições e ícones não se atropelam tanto no momento de tirar fotografia e que pode atrapalhar, já que foram diversas as vezes que os modos inteligentes ativavam funcionalidades que não queriam e limitavam o zoom até aos 10x. Apesar disso, o equipamento consegue ser extremamente prazeroso na utilização e captura, especialmente ao permitir usar os sensores principais para vídeos e fotos mas em modo selfie. Aqui, contudo, seria bom uma implementação melhorada, visto que nem sempre consegui ativar a funcionalidade ou a mesma obrigava-me a fechar o equipamento para escolher selfie e só depois abrir o equipamento para ter o modo especial.













Em alguns momentos senti tendência para o escuro, algo mais visível na ultragrande angular, onde mesmo quando tinha luz natural, pareceu processar o meu braço de forma cartonada:


Apesar disso, fiquei agradado com os resultados noturnos, especialmente pela quantidade de humidade presente no ar nas cenas que fotografei. No geral, o sistema de câmaras vai além do que o consumidor comum procura, mas com ressalvas de melhorias ainda necessárias e que se tornam importantes para o refinar da experiência, especialmente quando entramos nesta faixa de preço. Atendendo a que a primeira atualização corrigiu alguma da escuridão que tinha nas imagens, especialmente as capturadas em Londres para as que depois tirei no Porto, tenho grande fé naquilo que a marca poderá atingir com este equipamento.
O vídeo ganha vantagem por se poder usar os grandes sensores e, tirando ambientes com pouca luz, onde a luta é visível, no geral consegue representar bem o que estou a ver e tornou-me fã deste formato, ideal para quem cria conteúdo.
Bateria
Ia com expetativa para a bateria do HONOR Magic V5, e deixem-me que vos diga: não desilude. Não só nas definições de carregamento e informações de bateria, como na sua rápida carga e durabilidade para todo o dia. Com uso intensivo de 5G/4G e, ao chegar a casa, Wi-Fi, consegui obter sempre algo superior às quatro horas de utilização e nunca tive o equipamento abaixo dos 30%. O software, bateria e o Snapdragon Elite mostram as suas maravilhas, onde tirando o aquecimento com o carregamento rápido (que se pode desativar), o equipamento manteve-se sem variações de temperatura.
Para muitos este valor pode parecer baixo, mas representa uma utilização real do smartphone mais próxima da realidade do que os tradicionais vídeos de YouTube que, ao terem o equipamento a fazer uma mesma coisa por largos minutos, levam a que este otimize de forma diferente, algo que no dia a dia acaba por não acontecer tanto já que saltitamos mais entre aplicações e tarefas.
Veredito
Foi um deleite ter este equipamento. Otimizou a minha produtividade e criatividade, assim como se tornou prático no consumo de multimédia e produtividade. O software rico faz a sua magia, assim como um sistema de câmaras completo e que vai atender todas as situações da vida, quer durante a noite, quer em fotografias com movimento.
Existe, contudo, uma ressalva grande: a interface. Fortemente inspirada pelo iOS, e apesar de permitir a clássica personalização, sinto que a HONOR tem ainda trabalho em arrumar tudo e criar uma identidade mais vincada. Diversas funcionalidades podem ser difíceis de descobrir a quem vem de outro ecossistema e, mesmo para quem vem do Android, pode sentir falta de outras coisas em termos de personalização e controlo do sistema. O sistema tem ainda tanta funcionalidade e opção que pode ser fácil sentir que estamos a perder algo. Existe um claro esforço em ter tudo organizado, e as Definições demonstram isso, mas gostava de ver, quiçá numa futura atualização do MagicOS 10, a empresa a seguir o caminho da Apple e Samsung e desse uma atualização à interface. Isto ajudará, sem dúvida, a limar também em termos de bugs, onde por vezes tinha aplicações a pensar que estavam em modo ecrã aberto e a apresentar-me opções que não existem no modo 16:9.
No final das contas, com um preço a tocar os 2000€, o HONOR Magic V5 faz aquilo que se compromete: é uma casa de personalidade onde o utilizador estará sempre preparado para aquilo que quiser fazer, quer seja em trabalho, fotografia, ou até para jogos, já que conta com o processador mais recente e que prolonga a duração do equipamento. Se compararmos com o rival direto e pelas especificações, o HONOR Magic V5 bate o Samsung Galaxy Z Fold 7 em todos os campos e, por mais que a Samsung leve a melhor em termos de software geral, a oferta da HONOR acaba por ser bastante completa e dar mais escolha no momento da sua própria utilização.