Já passaram largos dias desde que o Pixel 10 chegou à minha mão. Sempre tive entusiasmo em rever um equipamento da Google e sabia que isso teria alta probabilidade de acontecer assim que surgisse a mudança para um processador próprio. A expectativa era imensa. A minha curiosidade, aguçada, estava pronta para ver com os meus próprios olhos o que se tem dito sobre a gama. Até que chegou o momento de, findada a minha conceção do produto, vos falar sobre ele.
Construção e acabamento

Uma coisa sabia mesmo antes de pegar no equipamento: seria confortável. E, mesmo não sendo o mais fino ou leve do mercado, é prazeroso de usar. O ecrã AMOLED de 6,3 polegadas e até 120Hz encaixa perfeitamente na mão e a construção com cantos arredondados torna a utilização agradável. O posicionamento dos botões é inteligente, facilitando o acesso ao controlo de volume, colocado logo abaixo do botão de energia.
Algo pouco referido é a experiência de usar o equipamento com capa, nomeadamente a oficial. Tendo a versão em silicone branco, posso dizer que a experiência eleva-se. A qualidade dos botões, o toque metalizado do logótipo da Google e o silicone macio dão-lhe um acabamento premium. Diversas marcas deviam aprender com este cuidado. Afinal, por mais certificações que o vidro tenha ou por mais resistência a água e poeira que apresente, a probabilidade de usares o Pixel 10 com capa é alta — e esta experiência combinada acrescenta valor ao equipamento que assinala os 10 anos da linha.
A experiência de software com a Pixel UI

Um dos poucos equipamentos já com Android 16, o Pixel 10 estreia também o Material 3 Expressive, que renova a interface do sistema. Entre animações, design da barra de notificações e ícones de acesso rápido, a nova interface consegue ser refrescante. Confesso que não era fã quando foi apresentada e ainda acho estranha a mistura de retângulos, triângulos e círculos. Mas, quando somados aos novos sons do sistema, acabo facilmente por esquecer esses detalhes e ficar rendido.
As definições estão organizadas de forma clara, tornando-se uma das páginas mais simples no ecossistema Android. Ao focar nas funcionalidades essenciais, a Google consegue apresentar um sistema mais limpo e apelativo, capaz de atrair até utilizadores de iPhone. Contudo, algumas escolhas deixaram-me saudoso do Android de outros tempos, sobretudo na personalização. Não é possível remover uma página inicial por completo sem apagar ícone a ícone, e o widget persistente de Resumo permanece preso no topo do ecrã inicial. O reprodutor multimédia, que fixa o último conteúdo tocado, nem sempre desaparece ao deslizar. Também o atalho de Wi-Fi, agora junto dos dados móveis, exige passos adicionais para ligar ou desligar. A inconsistência sente-se ainda no controlo de luminosidade, que reage devagar e nem sempre ajusta o ecrã ao ambiente de forma eficaz.
São pormenores que, para alguns, podem parecer menores. Mas quando entramos nesta faixa de preço, tornam-se relevantes. Apesar disso, o ecrã reage bem às interações e os ícones vibrantes transmitem a intenção da marca em refinar o software. Como a empresa fornece atualizações frequentes — os chamados Pixel Drop — tenho expetativa em ver a evolução da experiência a longo prazo.
Ainda assim, a Google continua a oferecer boas personalizações. A pesquisa funciona de forma impecável, com interface apelativa e intuitiva. A captura de ecrã permite selecionar ao detalhe o que incluir ou partilhar de imediato. Falta-me, porém, a antiga sugestão de aplicações no menu de apps recentes — uma funcionalidade prática que deixou saudades.




No leque de aplicações, para além das clássicas (Gmail, YouTube, Maps ou Gemini), destacam-se a app de Passwords e o novo Diário, que integra dados de saúde ou fotografias. Também a Segurança ganha aplicação própria, reunindo informação de emergência e opções de proteção pessoal, desde alertas de acidente de carro até mensagens automáticas em situações de crise. É um ponto diferenciador face à concorrência e mostra uma visão mais holística da Google.




A fotografia

O Pixel 10 traz uma câmara tripla, colocando-se ao nível dos mais recentes Galaxy S25 e S25+, superando a oferta base do iPhone. Inclui uma grande-angular de 48 MP com macrofoco, uma ultra grande-angular de 13 MP e uma teleobjetiva 5x de 10,8 MP, capaz de zoom ótico até 10x e digital até 20x.
Este conjunto torna-o muito apelativo para quem procura versatilidade fotográfica a menos de 1000€. A câmara principal entrega imagens com contraste equilibrado, cores vivas e tons de pele naturais. O modo noite continua a ser dos melhores da indústria, mantendo o céu bem exposto e com baixo ruído — algo que testei em Lisboa e Londres, com resultados consistentes mesmo sob luz fluorescente.

















As dificuldades surgem quando a luminosidade baixa e recorremos à ultra grande-angular ou ao sensor telefoto a 5x. As fotos tremem facilmente e o ruído aumenta, como notei em imagens de Lisboa ou em zoom a 20x com iluminação de rua.


Nas imagens acima é usada a distância de 0,6X para a Assembleia da República, o que revela ruído, intensificado com a iluminação de rua. O mesmo para o zoom a 20x, que perde qualquer qualidade em ambientes de iluminação difícil. Porém, o mesmo cenário mantem-se, a este nível de zoom, em ambientes com iluminação natural:


Estas imagens, tiradas em Espinho, demonstram a capacidade do sensor telefoto a 5x conseguir lidar com a humidade presente na imagem para a tornar visivelmente melhor que uma magnificação maior e digital, na imagem à direita. Isto é visível pela perde de cor nas ondas e no mar, perda de detalhe, assim como na exposição nas rochas.
Apesar dos desafios, o telemóvel, em ambientes não tão desafiantes, mesmo que tenha o rio Douro ao lado, consegue manter cores, sombras e detalhe, em Gaia. Mesmo assim, o céu é o ambiente que leva a maior dificuldade quando aplicamos zoom.



Contudo, com boa luminosidade, os sensores brilham, levando-me a tirar das minhas fotografias favoritas:




A destacar na oferta da Google está ainda funcionalidades deliciosas, como astrofotografia, Adiciona-me (que já irei referir), melhor rosto para garantir que nunca se perde um sorriso numa fotografia, ou os modos de longa exposição. Nesta faixa de preço, estas funcionalidades são raras de encontrar e gostei de experimentar, especialmente, a da exposição prolongada, com resultados incríveis mesmo sem tripé.


Inteligência Artificial
A IA é o verdadeiro foco do Pixel 10. Pode não ser o mais potente no papel no que toca a CPU e GPU, mas desbloqueia funcionalidades únicas, tanto no dispositivo como nas apps Google. O Adiciona-me fez as delícias da minha família, permitindo incluir o fotógrafo na imagem através de duas captações fundidas pelo Tensor G5. Apesar de uma interface pouco intuitiva durante o processamento, o resultado é excelente.
No Google Fotos, a edição com IA vai além da mera curiosidade: permite reimaginar imagens por texto ou apagar objetos de forma convincente. Nem sempre a seleção é perfeita, mas os resultados são impressionantes. Removi facilmente pessoas e elementos indesejados em várias fotografias, algo que agradou muito os meus familiares utilizadores de iPhones.



Pessoas e obras foram removidas das imagens
Por fim, o Gemini integra-se cada vez mais nas apps Google e até em serviços como Spotify, WhatsApp e YouTube. Com dispositivos inteligentes, como relógios, os comandos por voz tornam-se uma mais-valia, sobretudo com a introdução do Magic Cue, que sugere ações personalizadas para o utilizador. Ferramentas que se juntam ao Gemini Nano que corre no equipamento, assim como ao famoso Circle to Search.
Bateria
A bateria de 4870 mAh superou as minhas expetativas. Com uso diário de 4G e 5G, redes sociais e interações constantes, consegui ultrapassar as 4 horas de ecrã ligado — algo difícil no meu Galaxy S23 Ultra, apesar da bateria maior. Em Wi-Fi, os valores sobem facilmente acima das 5 horas.
Importa, no entanto, referir que a Google limita automaticamente a capacidade de carregamento ao longo do tempo para evitar degradação. É uma medida positiva para prolongar a vida útil, mas poderá ter impacto ao longo dos 10 anos de atualizações prometidos visto que não é dada possibilidade de escolha ao utilizador.
Não obstante, a linha Pixel 10 incorpora ainda carregamento com o padrão Qi2, com o Pixelsnap e que me permitiu, por exemplo, usar uma carteira MagSafe (Apple), neste modelo.
Veredito
Com o novo processador, melhorias na gestão de calor e foco em IA, o Pixel 10 apresenta-se como uma boa alternativa para quem vem do iPhone, gosta de ecrãs pequenos e quer explorar o mundo Android. A Google aposta em funcionalidades inteligentes, fotografia competente e atualizações de longo prazo.
Todavia, se a prioridade for a fotografia, poderá compensar investir no Pixel 10 Pro (1119€, com oferta do plano Google AI Pro) ou até no Pixel 9 Pro (1019€). O Pixel 10, a 919€, é o equilíbrio entre preço e inovação — um smartphone que não é apenas um telemóvel, mas a visão da Google para o futuro da IA móvel.